segunda-feira, 5 de maio de 2008

Nasce um novo dia e no braço outra asa


Quando é que a vida fala connosco? E como?

Por um pequeno momento perfeito, por uma sintonia com o mundo ou por um cheio,intenso e luminoso empurrão que cresce cá dentro, que nos cria 1 bola nervosa no estômago, que nos transmite uma energia perdida..

...e aquela sensação feita de sensações...de ansiedade, de empolgamento, de interrogação, de dúvida, de coragem, de receio, de planeamento emotivo...de certeza de que aquele empurrão me leva para ali, para longe desta (des)confortável previsibilidade e para perto...daquilo...

Será muita presunção confessar que sempre senti isto? Que sempre senti o nó na garganta ou os olhos quentes quando penso nisto? Que sempre me senti longe de onde estou e a voar...de olhos fechados...pelo verdadeiro mundo...pelo horizonte a perder-se..pela pureza....pela deslumbrante beleza da simplicidade..pela descoberta da essência...pela descoberta do de mim...

Tendo em conta como universo os meus anos de vida creio que a amostragem já se pode considerar estatisticamente significativa.

A vida fala-me nos raros momentos em que não consigo descansar nos braços de Morpheu. Foi assim no 1º dia de escola primária, no 1º dia de ciclo, no dia em que o 1º familiar morreu, no 1º exame da faculdade, nos dias (e aqui foram vários...) em que o tive comigo, na manhã do ultimo exame do curso e ontem...

...sim...a vida falou-me, abriu-me os olhos com palitos..fez-me desejar novamente...fez-me ter ganas, ter motivo, ter razão...sonhar aquele horizonte e planear com as ferramentas deste mundo a forma de o ir ver...e conseguir senti-lo sempre que os palitos se quiserem partir ou vergar, para que aquele empurrão seja mais forte e não me deixe voltar atrás.

O 1º dia do resto de outra vida, começou hoje, e vai ser o 1º porque vai haver outra vida e vou construí-la..agora.

A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo

diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

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