quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sapatadas de luva preta

Ela entrou lá dentro.

O frenesim ficou reduzido a um barulho longínquo e indefinido. O ar era mais limpo, mais húmido e mais fresco. Os olhos quase não se conseguíam adaptar à escuridão profunda em que aquele recanto estava embrenhado. Como se pedisse para os fechar e deixar que o tacto a guiasse.

Estava só no meio de toda a gente, num precioso sítio perdido no meio da confusão, aonde podia ir quando quisesse fugir da realidade...
aonde queria fugir da realidade...aonde queria irracional e incondicionalmente perder o espaço e o tempo e desejar até ao tutano. Porque sabia que nunca o iria fazer, e nunca mais o poderia fazer.

- "
Precisavas de sentir, para além do tempo, do espaço, da consciência e do real"- disse.
Ela sorriu e respondeu:
- "
Sim precisava. Mas precisava que essa inconsciente e incondicional explosão fosse um sintoma e não a doença. Só assim seria verdadeiramente inconsciente e incondicional".
- "
Queres parar?"
- "
Não. Tem a sua função. Se a tentares mudar deixará de fazer sentido e com ele virá um vazio, mais desconcertante que este"

Cá fora estava tudo na mesma. Respirou fundo o ar do dia, e regressou.
"O Sol nunca vê a sombra".


A Utopia não gosta Dela. Fica zangada cada vez que Ela a põe de castigo com o chapéu-de-burro por ser inapropriada, teimosa e inadequada querendo recorrentemente brincar nas piores alturas.

Pega nas primeiras luvas que apanha, vira-se chorosa e amargurada e dá-Lhe sapatadas de luva preta, fortes e cruas. Nem precisam de ser diferentes do habitual. Basta serem exactamente iguais, a baterem sempre no mesmo ponto massacrado, a fazerem sempre arder o mesmo pedaço de pele. Depois, quando está farta de amassar no mesmo sítio e percebe que Ela não lhe responde, vira-se contra o cenário e, com as mesmas luvas pretas, dá novas sapatadas. E a cada sapatada o palco velho e gasto e vulgar e sarcástico e feio vai aparecendo...menos 1 pedaço..menos 2...menos 3...A bonança vem, depois da tempestade.

Ela pega nas luvas que ficaram no chão. Estão sujas mas não estão rasgadas. Ela lava-as no lavatório e coloca-as junto ao banco do castigo, ao lado do chapéu-de-burro. Estão boas e ainda servem bem para a função que têm.

A sombra nunca vê o Sol, nem sabe que a ele deve a sua existência.


Starry night bring me down
'Til I realize the moon
It seems so distant yet I felt it pass
Right through
So I see what I see
A new world is over me
So I'll reach up to the sky
And pretend that I'm a
Spaceman, in another place and time
I guess I'm lookin' for a brand new
Place, is there a better life for me
Subtle wind blow me gone
Let me rest upon your move
I trust I'll end up sleeping
Cradled in my doom
So I feel what I feel
I can't grasp what is not real
So I'll get myself real high
And imagine I'm a
Spaceman, in another place and time
I guess I'm lookin' for a brand new
Place, is there a better life for me
I remember in my mind
They say I'm a daydreamin'
Is it all that It seems
Or am I all the things I'm looking for, yea
So I see what I see, A new world is over me
And I'll reach up to the sky
And pretend that I'm a spaceman
In another place and time
I guess I'm lookin' for a brand new place
I remember living in a different life
Is there a better life for me

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