É bom saber que sou baú de desabafos quando um amigo não está bem. É bom sentir que fui escolhida. Faz-me sempre sentir grata.
Ao falar com ele apercebo-me o quanto sequei e resfriei. Vejo o amor e a vida de forma calculista e lógica porque sei como as coisas são e vão ser. Pão pão, queijo queijo. Porque já as vivi antes mesmo de elas começarem. Porque já conheço as histórias, as minhas e as dos outros, decorei os caminhos e consigo identificá-los quando me fazem cair lá de pára-quedas de olhos vendados.
Bom ou mau? É bom não ter a angústia do desconhecido entalada na garganta e a chicotear o coração. É mau não ter o entusiasmo sincero, puro, feliz e inconsequente do desconhecido.
Dou os conselhos certos, ainda que sejam os duros, os que doem e magoam. Porque me custa gastar-se tempo em estradas secundárias quando sei o caminho pela auto-estrada. (Sim mas as estradas secundárias têm uma paisagem muito mais bonita para ver. Ok, mas não será o destino ainda mais bonito? Vai por mim a beleza das paisagens que vês passar pela janela são insignificantes. Nesta caso o que tu queres é chegar lá o mais depressa possível para, depois sim, gastares todo o tempo do mundo e saboreares o destino da tua viagem.)
Porque me custa alguém perder-se e andar sem óculos quando com óculos veria o destino ali em frente das narinas.
Nem uma réstia de emoção, nem uma réstia de dúvidas, de parvoíces e sorrisos tontos. Seca, como uma peça de fruta que caiu da árvore e ficou ali, no chão, a apanhar sol. A casca endureceu, o sumo evaporou-se e ali ficou pronta para um óptimo arranjo de centro de mesa, perdendo a função de fruto e passando a objecto decorativo.
Deixei de começar o que sei que vai acabar. Passei a colocar a fasquia exactamente no sítio onde quero. Passei a exigir precisamente o que me pode satisfazer plenamente, nem a mais, nem a menos. Porque me cansei de me satisfazer com metades e porque prefiro não ter a ter pedaços do que quero. E com isto perdi o encantamento das paixões fugazes e aquele “ sei como vai acabar mas não interessa, logo se vê”.
Saber de cor o mapa dos caminhos tem uma responsabilidade acrescida e ela assumiu-me.
Não foi uma opção. Primeiro porque não gosto de optar, já aqui o disse mas, segundo, porque não a tive. Porque assim se desenrolou e se impôs. E por essa imposição me questiono se não será O meu fado. Não é bom nem mau, é aquele que é. Cada um tem o que tem e talvez o meu seja ser guia desta rede de caminhos. Não é mau de todo, os guias têm sempre aquela fatiota janota e normalmente são afáveis. Mas qualquer guia tem sempre o problema de conhecer tão bem os quantos à casa que perde a possibilidade de se fascinar com ela. Ossos do ofício... que ás vezes cansam, cansam muito.