quarta-feira, 30 de abril de 2008

Este rio, estes montes e este vale


Como festejei o dia da Liberdade? Vivendo-a, como só a Natureza me permite vivê-la: pura, grandiosa, avassaladora, leve e verdadeira.

Liberdade?Liberdade é ver estas cores e sentir estes cheiros. Liberdade é encontrar-me aqui. É de cada vinda me reencontrar e de cada ida despedir-me do que sou.

Liberdade é parar, olhar a imensidão dos campos, a grandeza dos montes circundantes e o azulão limpo dos céus, ouvir o zumbir cheio de uma alegria que não nos pede licença para existir, cheirar os delicados perfumes esquecidos e sentir o calor de um sol verdadeiro na pele.
Liberdade de perder os sentidos na beleza. Liberdade de estar só assim, como quiser,e empregnar-me...sem nada em troca.
Dia da Liberdade?Tenciono merecê-la..sempre..e festejá-la assim...agradecendo este pedaço do que sou..deste rio, deste montes e deste vale.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sapatadas de luva preta

Ela entrou lá dentro.

O frenesim ficou reduzido a um barulho longínquo e indefinido. O ar era mais limpo, mais húmido e mais fresco. Os olhos quase não se conseguíam adaptar à escuridão profunda em que aquele recanto estava embrenhado. Como se pedisse para os fechar e deixar que o tacto a guiasse.

Estava só no meio de toda a gente, num precioso sítio perdido no meio da confusão, aonde podia ir quando quisesse fugir da realidade...
aonde queria fugir da realidade...aonde queria irracional e incondicionalmente perder o espaço e o tempo e desejar até ao tutano. Porque sabia que nunca o iria fazer, e nunca mais o poderia fazer.

- "
Precisavas de sentir, para além do tempo, do espaço, da consciência e do real"- disse.
Ela sorriu e respondeu:
- "
Sim precisava. Mas precisava que essa inconsciente e incondicional explosão fosse um sintoma e não a doença. Só assim seria verdadeiramente inconsciente e incondicional".
- "
Queres parar?"
- "
Não. Tem a sua função. Se a tentares mudar deixará de fazer sentido e com ele virá um vazio, mais desconcertante que este"

Cá fora estava tudo na mesma. Respirou fundo o ar do dia, e regressou.
"O Sol nunca vê a sombra".


A Utopia não gosta Dela. Fica zangada cada vez que Ela a põe de castigo com o chapéu-de-burro por ser inapropriada, teimosa e inadequada querendo recorrentemente brincar nas piores alturas.

Pega nas primeiras luvas que apanha, vira-se chorosa e amargurada e dá-Lhe sapatadas de luva preta, fortes e cruas. Nem precisam de ser diferentes do habitual. Basta serem exactamente iguais, a baterem sempre no mesmo ponto massacrado, a fazerem sempre arder o mesmo pedaço de pele. Depois, quando está farta de amassar no mesmo sítio e percebe que Ela não lhe responde, vira-se contra o cenário e, com as mesmas luvas pretas, dá novas sapatadas. E a cada sapatada o palco velho e gasto e vulgar e sarcástico e feio vai aparecendo...menos 1 pedaço..menos 2...menos 3...A bonança vem, depois da tempestade.

Ela pega nas luvas que ficaram no chão. Estão sujas mas não estão rasgadas. Ela lava-as no lavatório e coloca-as junto ao banco do castigo, ao lado do chapéu-de-burro. Estão boas e ainda servem bem para a função que têm.

A sombra nunca vê o Sol, nem sabe que a ele deve a sua existência.


Starry night bring me down
'Til I realize the moon
It seems so distant yet I felt it pass
Right through
So I see what I see
A new world is over me
So I'll reach up to the sky
And pretend that I'm a
Spaceman, in another place and time
I guess I'm lookin' for a brand new
Place, is there a better life for me
Subtle wind blow me gone
Let me rest upon your move
I trust I'll end up sleeping
Cradled in my doom
So I feel what I feel
I can't grasp what is not real
So I'll get myself real high
And imagine I'm a
Spaceman, in another place and time
I guess I'm lookin' for a brand new
Place, is there a better life for me
I remember in my mind
They say I'm a daydreamin'
Is it all that It seems
Or am I all the things I'm looking for, yea
So I see what I see, A new world is over me
And I'll reach up to the sky
And pretend that I'm a spaceman
In another place and time
I guess I'm lookin' for a brand new place
I remember living in a different life
Is there a better life for me

terça-feira, 15 de abril de 2008

Ofício:Guia

É bom saber que sou baú de desabafos quando um amigo não está bem. É bom sentir que fui escolhida. Faz-me sempre sentir grata.

Ao falar com ele apercebo-me o quanto sequei e resfriei. Vejo o amor e a vida de forma calculista e lógica porque sei como as coisas são e vão ser. Pão pão, queijo queijo. Porque já as vivi antes mesmo de elas começarem. Porque já conheço as histórias, as minhas e as dos outros, decorei os caminhos e consigo identificá-los quando me fazem cair lá de pára-quedas de olhos vendados.

Bom ou mau? É bom não ter a angústia do desconhecido entalada na garganta e a chicotear o coração. É mau não ter o entusiasmo sincero, puro, feliz e inconsequente do desconhecido.

Dou os conselhos certos, ainda que sejam os duros, os que doem e magoam. Porque me custa gastar-se tempo em estradas secundárias quando sei o caminho pela auto-estrada. (Sim mas as estradas secundárias têm uma paisagem muito mais bonita para ver. Ok, mas não será o destino ainda mais bonito? Vai por mim a beleza das paisagens que vês passar pela janela são insignificantes. Nesta caso o que tu queres é chegar lá o mais depressa possível para, depois sim, gastares todo o tempo do mundo e saboreares o destino da tua viagem.)

Porque me custa alguém perder-se e andar sem óculos quando com óculos veria o destino ali em frente das narinas.

Nem uma réstia de emoção, nem uma réstia de dúvidas, de parvoíces e sorrisos tontos. Seca, como uma peça de fruta que caiu da árvore e ficou ali, no chão, a apanhar sol. A casca endureceu, o sumo evaporou-se e ali ficou pronta para um óptimo arranjo de centro de mesa, perdendo a função de fruto e passando a objecto decorativo.

Deixei de começar o que sei que vai acabar. Passei a colocar a fasquia exactamente no sítio onde quero. Passei a exigir precisamente o que me pode satisfazer plenamente, nem a mais, nem a menos. Porque me cansei de me satisfazer com metades e porque prefiro não ter a ter pedaços do que quero. E com isto perdi o encantamento das paixões fugazes e aquele “ sei como vai acabar mas não interessa, logo se vê”.

Saber de cor o mapa dos caminhos tem uma responsabilidade acrescida e ela assumiu-me.

Não foi uma opção. Primeiro porque não gosto de optar, já aqui o disse mas, segundo, porque não a tive. Porque assim se desenrolou e se impôs. E por essa imposição me questiono se não será O meu fado. Não é bom nem mau, é aquele que é. Cada um tem o que tem e talvez o meu seja ser guia desta rede de caminhos. Não é mau de todo, os guias têm sempre aquela fatiota janota e normalmente são afáveis. Mas qualquer guia tem sempre o problema de conhecer tão bem os quantos à casa que perde a possibilidade de se fascinar com ela. Ossos do ofício... que ás vezes cansam, cansam muito.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Cheira a limpo!


No meio das horas passadas entre etiquetas, impressões, arrumações, actualizações e quase tudo o mais acabado em ões necessário para não ser culpada de mais uma desgraça (pouco certificada) na industria construtora em Portugal, obrigo-me a tirar uns bons minutitos para vir aqui lavar a cachola e exorcizar a estupidez.

Sim a estupidez tem de ser jorrada cá pra fora porque quando a estupidez é muita não há espaço mental que a aguente sem diminuir o rendimento que tenho de (obrigatoriamente) ter nos próximos dias.
HÁ que a lavar bem lavadinha, com Ciff, lixívia e litros e litros d´agua (esqueçam lá o Ambiente) pra ver se arrumo a casa e a coisa vai.

Pequeno há parte digno de registo neste dossier digital:
Senhora dona Dani, está oficialmente certificada pela ECDC (Entidade Certificadora da Doçaria e Calorias) pelo seu doce de Filipinos e lasanha recheadíssisssssiiiiima de natas, que me soube por esta existência e pelas próximas!! O seu ninho é a vossa cara: acolhedor, cheio de energias positivas e muitas..borboletas!Ah! As gargalhada com amigos apagam qualquer cansaço semanal:) MUAH!!

Bom, começando as limpezas do meu sótão...cá vai a lista, em modo flash, como quem manda a lixeirada da janela sem triagem.

1) Pelos visto "é costume" eu chegar à Segunda e não jantar, assim como era costume eu sair com ele à sexta-feira, assim como é costume eu SÓ ir à obra à quarta. Detesto o é costume. Adoro quando os outros sabem que eu tenho costumes que nem eu sei que tenho. Maravilhoso.

2) A forma subtil como o consumismo se manifesta e se auto-justifica devia ser profundamente estudado. "Ah as vezes pra uma salada" "As vezes pra oferecer" "As vezes pra um jantar inesperado"....Pra uma prenda???Pra um jantar inesperado??? Fdx eu já disse o que penso em relação às prendas e se calhar sou de outro Mundo mas não me parece de todo absurdo considerar absolutamente estúpido alguém comprar prendas por antecedência sem ainda saber quem vai ser o feliz contemplado ou sequer SE VAI HAVER UM!! e jantar surpresa? se é surpresa é surpresa, logo não se sabe quando vai acontecer!!! "Ah e tal isto acontece pra cenas com funções porreiras e importantes" NOP! Isto acontece pra...
- lanterna com manivela manual pra dar luz (What??)
- maquina de encadernar, maquineta pra fazer etiquetas ( AH??)
- copos, bases pra copos, merdinhas pra pôr 3 amendoins (sim....4 ja não cabem);
- ceninhas de íman pra por especiarias penduradas no frigorífico (humm???);
(não vou continuar a listar estas...coisas)

3) Porque é que alguém, que vai pró meio da chuvada sem guarda-chuva ou impermeável (e portanto sabe que vai levar com chuva nas trombas) se encolhe e corre devagarinho com a cabeça baixa e em bicos de pés? Será que acha que se baixar a cabeça apanha menos chuva? Será que acha que se andar mais devagarinho e em biquinhos de pés a chuva molha mais devagar? Há perguntas lixadas...

4) "Fazer uma obra não é o mesmo que fazer um carro ou uma salsicha!" pois ta claríssimo que não meu caro Engenheiro! A complexa montagem de um veículo automóvel de 2 eixos implica um tecnicismo elitista e a arte de bem construir uma salsicha tenrinha e saborosa tem com certeza uma metodologia ancestral absolutamente incomparável com a execução de uma obra. Tem toda a razão meu caro. Executar um Empreitada em nada se coaduna com o complexo processamento de informação, mecanismos, meios e procedimentos necessários para compatibilizar entre todos os intervenientes as funções e actividades necessárias para tecer adequadamente todos os meandros mágicos de um ganda carrão ou uma bela salsichona, onde naturalmente sua excelência convirá que a sua intelectualidade não seria adequada ao processo construtivo adjacente ao objectivo a atingir e, naturalmente não valeria um chavo de tão inacreditavelmente idiota que é!
Antes a execução de uma obra poderia sim ser semelhante à construção de um monolugar ou um salsichão mas de um carro e uma salsicha???Não, de todo impossível Sr. Engenheiro. Tecnicamente inviável!

Ah!!!!Não sou maníaca de limpezas mas lá que sabe bem de vez em quando dar uma limpeza expresso cá por cima..isso não há dúvidas que sabe:) Snif....Ah!.... cheira a limpo!

Certificação..me aguardjiiiiii que eu vou xêgáaaaaaa!!!:D

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Last lecture



O tempo não se perde nem se ganha, apenas passa. Embora exista, não existe.
Uma hora e pouco para assimilar o que podemos fazer dele, é, na minha opinião, uma óptima forma de o aproveitar e perceber o que podemos fazer com aquele que nos resta para ai encaixarmos tudo o que queremos fazer durante o tempo que durar.

O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tinha. O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto o tempo tempo tem.

Partilho esta última lição de alguém que tem pouco tempo ( ou será muito, tendo em conta que o tempo é infinitamente grande e pequeno ao mesmo tempo?) para que possam aproveitar melhor o vosso. Uma hora de tempo por outras tantas mais bem aproveitadas.

Once again it´s all about perspective.

Bom fim-de-semana.