O fim-de-semana foi marcado pelo regresso das alergias veraneantes.
Elas insistem em acompanhar-me anualmente por este altura. Curiosamente, as suas visitas trazem boas e más sensações. Para além do desconforto físico de sentir um peso incomum na cabeça, mudar de voz e os lenços de papel se tornarem nos meus melhores amigos, estas companheiras de Agosto trazem consigo um alheamento da realidade, propício a divagações, momentos de clareza existencial e formulação de teorias.
Ao que parece, a dificuldade em oxigenar correctamente o cérebro e o entupimento das vias de circulação afloram e intensificam as preocupações e raciocínios latentes, as sensações escondidas e os pensamentos pertubadores aos quais no nosso quotidioano insistimos em não dar tempo para se formarem e desenvolverem.
Nestas alturas aparentemente, uma vez que estamos incapacitados para realizar adequadamente as tarefas comuns, uma qualquer lei da compensação permite-nos "ligar" ao sítio refundido dos pensamentos latentes, como uma luz de presença que se liga quando a energia eléctrica vai abaixo. E então o nosso querido cérebro faz questão de ir gastar a sua energia (sim nos dias que correm não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar esse bem precioso) a ir remexer nesse dito entulho de questões latentes, a triá-los cuidadosamente e a reencaminhá-los para o operador licenciado "Estado de vigília, S.A". Normalmente este processo é acompanhado por inércia (directamente proporcional ao nº de anti-histamínicos que consumo) e por um estranho empolamento das sensações.
E desta forma os pensamentos inquietantes ganham uma dimensão montruosa, sendo involuntariamente esmiuçados horas a fio, até ao tutano.
Não vou aqui divagar (pelo menos não agora) sobre as teorias que formulei nestes 2 dias de descanso semanal mas é curioso como os nossos pensamentos fluem, como se ligam às sensações, aos sentimentos, como evoluem em uníssono, como se fundem num fluído de energia quase como o chocolate derretido e as claras batidas em castelo numa mousse de chocolate: quando envolvemos o chocolate nas claras, criamos 1º uma espiral com manchas castanhas e brancas e depois, há medida que continuamos a mexer, criamos uma massa fofa,fluída com uma nova cor onde não se vê chocolate nem claras, mas em que sabemos que estão lá. E, tal como na mousse, se colocamos pensamentos mais perturbadores, com sensações suaves prevalecerá a cor do pensamento e vice-versa, mas quando juntamos quantidades grandes de pensamentos e sensações, eis que nasce uma mousse de chocolate forte, dulcíssima, quase perigosa tal não é a reacção das nossas papilas gustativas à explosão de sabor na nossa boca. Da mesma forma esta mistura com alto teor de pensamentos e sentimentos comprime o nosso peito, acelera o batimento cardíaco e o racicínio e chega-se a um estado de lucidez inquietante e não poucas vezes revelador. E por meros instantes essa mousse explosiva permite-nos finalmente esclarecer os tais pensamentos latentes ou pelo menos aliviar o seu peso. E nesta altura surgem teorias, constatações ou infelizmente, mais questões para guardar no stock de latentes . Por fim, quando os anti-histamínicos deixam de fazer efeito, a mousse já se consumiu, e restam apenas vestígios secos de uma fusão filosófica. O corpo descontrai, o coração volta a si, e retomo a conversa com as minhas alergias:
"- Então, ainda vão demorar muito por cá?Gostaram do Actifed ou preferem Zyrtec? A dose está boa ou aumento a frequência da toma? Como está isso de invadirem o meu cérebro hum? Tenham cuidado que amanhã é dia de trabalho e já não vos vou poder dar tanta atenção como hoje que é dia de descanso (e que rico descanso)."
Elas insistem em acompanhar-me anualmente por este altura. Curiosamente, as suas visitas trazem boas e más sensações. Para além do desconforto físico de sentir um peso incomum na cabeça, mudar de voz e os lenços de papel se tornarem nos meus melhores amigos, estas companheiras de Agosto trazem consigo um alheamento da realidade, propício a divagações, momentos de clareza existencial e formulação de teorias.
Ao que parece, a dificuldade em oxigenar correctamente o cérebro e o entupimento das vias de circulação afloram e intensificam as preocupações e raciocínios latentes, as sensações escondidas e os pensamentos pertubadores aos quais no nosso quotidioano insistimos em não dar tempo para se formarem e desenvolverem.
Nestas alturas aparentemente, uma vez que estamos incapacitados para realizar adequadamente as tarefas comuns, uma qualquer lei da compensação permite-nos "ligar" ao sítio refundido dos pensamentos latentes, como uma luz de presença que se liga quando a energia eléctrica vai abaixo. E então o nosso querido cérebro faz questão de ir gastar a sua energia (sim nos dias que correm não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar esse bem precioso) a ir remexer nesse dito entulho de questões latentes, a triá-los cuidadosamente e a reencaminhá-los para o operador licenciado "Estado de vigília, S.A". Normalmente este processo é acompanhado por inércia (directamente proporcional ao nº de anti-histamínicos que consumo) e por um estranho empolamento das sensações.
E desta forma os pensamentos inquietantes ganham uma dimensão montruosa, sendo involuntariamente esmiuçados horas a fio, até ao tutano.
Não vou aqui divagar (pelo menos não agora) sobre as teorias que formulei nestes 2 dias de descanso semanal mas é curioso como os nossos pensamentos fluem, como se ligam às sensações, aos sentimentos, como evoluem em uníssono, como se fundem num fluído de energia quase como o chocolate derretido e as claras batidas em castelo numa mousse de chocolate: quando envolvemos o chocolate nas claras, criamos 1º uma espiral com manchas castanhas e brancas e depois, há medida que continuamos a mexer, criamos uma massa fofa,fluída com uma nova cor onde não se vê chocolate nem claras, mas em que sabemos que estão lá. E, tal como na mousse, se colocamos pensamentos mais perturbadores, com sensações suaves prevalecerá a cor do pensamento e vice-versa, mas quando juntamos quantidades grandes de pensamentos e sensações, eis que nasce uma mousse de chocolate forte, dulcíssima, quase perigosa tal não é a reacção das nossas papilas gustativas à explosão de sabor na nossa boca. Da mesma forma esta mistura com alto teor de pensamentos e sentimentos comprime o nosso peito, acelera o batimento cardíaco e o racicínio e chega-se a um estado de lucidez inquietante e não poucas vezes revelador. E por meros instantes essa mousse explosiva permite-nos finalmente esclarecer os tais pensamentos latentes ou pelo menos aliviar o seu peso. E nesta altura surgem teorias, constatações ou infelizmente, mais questões para guardar no stock de latentes . Por fim, quando os anti-histamínicos deixam de fazer efeito, a mousse já se consumiu, e restam apenas vestígios secos de uma fusão filosófica. O corpo descontrai, o coração volta a si, e retomo a conversa com as minhas alergias:
"- Então, ainda vão demorar muito por cá?Gostaram do Actifed ou preferem Zyrtec? A dose está boa ou aumento a frequência da toma? Como está isso de invadirem o meu cérebro hum? Tenham cuidado que amanhã é dia de trabalho e já não vos vou poder dar tanta atenção como hoje que é dia de descanso (e que rico descanso)."
Depois, quando achamos que o período que estamos a viver não nos poderia ser mais revelador, eis senão quando, numa saída de sábado à noite ( na tentativa de solucionar algumas sensações empoladas e pensamentos tão gritantes que fico com tonturas), vou dar comigo num novo bar ao ar livre, junto ao rio, cujas paredes são montadas , como peças de Lego, com reservatórios de 1 m3. Nesses cubos passam aleatoriamente e de forma alternada, luzes verdes e azuis e apercebo-me da sua semelhança com a mousse energética interior: as luzes passam aleatoriamente, mas em uníssono ao longo daquela tela móvel, sabemos o que estamos a ver mas não sabemos para onde caminham ou que posição vão tomar em seguida. E essa fluidez transporta-nos, num rodopio alucinatório, à solução das ditas questão latentes. E dou por mim a pensar : "Ora aí está outra boa metáfora! E ainda descobri o que é que a mousse de chocolate e um bar feito de cubos têm em comum".
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