terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Nestes dias


Há dias que cruamente confirmamos que a nossa alma vive numa roda gigante, num ciclo, lento e imparável.
Há dias em que a fraqueza volta, em que despontam as incertezas, as melancolias, as nostalgias, os suspiros, os abafos (quando deveriam ser desabafos), em que gritam as injustiças, os inatingidos, os inquebrados e em que a consciencialização do Mundo se clarifica de forma insurtecedora.

Nesses dias, aceito a existência, a minha natureza insatisfeita, o meu estado de continua indagação, e a confirmação de que no Mundo quero saborear a existência e sentir a deliciosa oportunidade de estar cá. Nesses dias, resigno-me ao que não vou ser, que que nunca vou conhecer e ao que nunca vou mudar. E nesses dias, aceito a minha condição de refugiada emocional, deslocada deste sistema e destas formar de sentir o discurso inerente.

Como é possível ninguém o sentir???Ninguém, lhe responder????

A garganta e o coração apertam. Não me compete fazê-lo, não sou dotada dessa capacidade. Sinto que estou cá para o dar, para o comunicar, para o partilhar.
Gostava de conseguir transmiti-lo como vejo em muitos bloggs:) Há quem tb o sinta mas o consiga transmitir em experiências do quotidiano, com bom desenvolvimento frásico, bom vocabulário, sentido de humor e criatividade. Admiro essa capacidade:) Como admiro e aprecio cada vez mais cada personalidade que tenho a oportunidade de conhecer.

Nestes dias, preciso gritantemente de sentir o chão, de sentir que a estrutura é sólido e que não me vou desabar na consciencialização da existência. A ignorância é alegre...
Nestes dias penso incessantemente nas pessoas da minha vida, nas que sentem como eu, nas que sabem o que isto é, nas que sofrem com a consciencialização da existência, nas que vivem impotentes sentindo o diálogo inerente e vendo os outros a interrompê-lo. Nestes dias sinto assim que não estou sozinha. Alguém também sente que isto é para se saborear como um chocolate. A consciencialização é o maior mal que se torna no nosso maior bem. Sim, a vida é isto é, chegámos lá...Aproveita enquanto consegues espreitar..vê bem...contempla como é, cada cor, cada forma, cada surgimento. Quando a escada cair agradece o tempo que ela esteve erguida.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Takk



Nos últimos dias tive o privilégio de ouvir Sigur Rós. Os senhores que vêm da terra do frio e do fogo.. Não criam uma sonoridade ou um bom arranjo musical. Sigur Rós oferece-nos músicas desconcertantes, verdadeiras, tremendamente cruas, reais, que nos trespassam o coração e a alma antes mesmo de nos apercebermos disso. Os senhores do frio não nos transmitem uma mensagem, deixam-nos sentir a nossa. O diálogo inerente fala mais alto que em qualquer outro tipo de sonoridade e em cada fragmento de puro deleite musical sentimos descontroladamente o Mundo.
Ao que eles nos oferecem resta-me parafraseá-los na sua língua materna fria e doce islandesa: Takk...obrigada, creio que mudaram o meu olhar.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O raio

Na noite quente do meu coração
Um raio de luz veio viver
Tão suave, com ternura
Lavou-me o peito, fez-me tremer
E os momentos não passados,
As coisas por responder,
Tudo isso virou loucura, tudo se fez, tudo eu quis ser.

Vieram vagas, multidões,
Vieram suspiros de sentimentos,
Vieram azuis, brancos, esmeraldas,
Cheiros distantes, longos tormentos
Em catadupa, em euforia,
e meu coração se fez alegre
nele sorri e se fez dia

E dos momentos não passados,
E das coisas por responder,
Fez-se o regaço da minha volta
Fez-se a festa do meu viver
Porque tudo virou loucura,
Quando baixinho um raio de luz
No quente do coração
Me deu seu amor, me fez ser

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

alergias veraneantes



O fim-de-semana foi marcado pelo regresso das alergias veraneantes.
Elas insistem em acompanhar-me anualmente por este altura. Curiosamente, as suas visitas trazem boas e más sensações. Para além do desconforto físico de sentir um peso incomum na cabeça, mudar de voz e os lenços de papel se tornarem nos meus melhores amigos, estas companheiras de Agosto trazem consigo um alheamento da realidade, propício a divagações, momentos de clareza existencial e formulação de teorias.

Ao que parece, a dificuldade em oxigenar correctamente o cérebro e o entupimento das vias de circulação afloram e intensificam as preocupações e raciocínios latentes, as sensações escondidas e os pensamentos pertubadores aos quais no nosso quotidioano insistimos em não dar tempo para se formarem e desenvolverem.

Nestas alturas aparentemente, uma vez que estamos incapacitados para realizar adequadamente as tarefas comuns, uma qualquer lei da compensação permite-nos "ligar" ao sítio refundido dos pensamentos latentes, como uma luz de presença que se liga quando a energia eléctrica vai abaixo. E então o nosso querido cérebro faz questão de ir gastar a sua energia (sim nos dias que correm não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar esse bem precioso) a ir remexer nesse dito entulho de questões latentes, a triá-los cuidadosamente e a reencaminhá-los para o operador licenciado "Estado de vigília, S.A". Normalmente este processo é acompanhado por inércia (directamente proporcional ao nº de anti-histamínicos que consumo) e por um estranho empolamento das sensações.
E desta forma os pensamentos inquietantes ganham uma dimensão montruosa, sendo involuntariamente esmiuçados horas a fio, até ao tutano.

Não vou aqui divagar (pelo menos não agora) sobre as teorias que formulei nestes 2 dias de descanso semanal mas é curioso como os nossos pensamentos fluem, como se ligam às sensações, aos sentimentos, como evoluem em uníssono, como se fundem num fluído de energia quase como o chocolate derretido e as claras batidas em castelo numa mousse de chocolate: quando envolvemos o chocolate nas claras, criamos 1º uma espiral com manchas castanhas e brancas e depois, há medida que continuamos a mexer, criamos uma massa fofa,fluída com uma nova cor onde não se vê chocolate nem claras, mas em que sabemos que estão lá. E, tal como na mousse, se colocamos pensamentos mais perturbadores, com sensações suaves prevalecerá a cor do pensamento e vice-versa, mas quando juntamos quantidades grandes de pensamentos e sensações, eis que nasce uma mousse de chocolate forte, dulcíssima, quase perigosa tal não é a reacção das nossas papilas gustativas à explosão de sabor na nossa boca. Da mesma forma esta mistura com alto teor de pensamentos e sentimentos comprime o nosso peito, acelera o batimento cardíaco e o racicínio e chega-se a um estado de lucidez inquietante e não poucas vezes revelador. E por meros instantes essa mousse explosiva permite-nos finalmente esclarecer os tais pensamentos latentes ou pelo menos aliviar o seu peso. E nesta altura surgem teorias, constatações ou infelizmente, mais questões para guardar no stock de latentes . Por fim, quando os anti-histamínicos deixam de fazer efeito, a mousse já se consumiu, e restam apenas vestígios secos de uma fusão filosófica. O corpo descontrai, o coração volta a si, e retomo a conversa com as minhas alergias:
"- Então, ainda vão demorar muito por cá?Gostaram do Actifed ou preferem Zyrtec? A dose está boa ou aumento a frequência da toma? Como está isso de invadirem o meu cérebro hum? Tenham cuidado que amanhã é dia de trabalho e já não vos vou poder dar tanta atenção como hoje que é dia de descanso (e que rico descanso)."


Depois, quando achamos que o período que estamos a viver não nos poderia ser mais revelador, eis senão quando, numa saída de sábado à noite ( na tentativa de solucionar algumas sensações empoladas e pensamentos tão gritantes que fico com tonturas), vou dar comigo num novo bar ao ar livre, junto ao rio, cujas paredes são montadas , como peças de Lego, com reservatórios de 1 m3. Nesses cubos passam aleatoriamente e de forma alternada, luzes verdes e azuis e apercebo-me da sua semelhança com a mousse energética interior: as luzes passam aleatoriamente, mas em uníssono ao longo daquela tela móvel, sabemos o que estamos a ver mas não sabemos para onde caminham ou que posição vão tomar em seguida. E essa fluidez transporta-nos, num rodopio alucinatório, à solução das ditas questão latentes. E dou por mim a pensar : "Ora aí está outra boa metáfora! E ainda descobri o que é que a mousse de chocolate e um bar feito de cubos têm em comum".

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Somewhere over the rainbow

Somewhere over the rainbow

Way up high,

There's a land that I heard of

Once in a lullaby.
Somewhere over the
rainbow

Skies are blue,

And the dreams that you dare to dream

Really do come true.
Someday I'll wish upon a
star

And wake up where the clouds are far

Behind me.

Where troubles melt like lemon drops

Away above the chimney tops

That's where you'll find me.
Somewhere over the
rainbow

Bluebirds fly.

Birds fly over the rainbow.

Why then, oh why can't I?
If happy little
bluebirds fly

Beyond the rainbow

Why, oh why can't I?

Há momentos em que de repente algo que te é conhecido há muito se revela como novo e supreendentemente e faz em sentido tremendo.

Assim aconteceu com esta música. Já a conhecia há muito, de quando era miuda e vi o filme. Mas hoje, hoje ouvi uma versão bonita e a cada palavra redescobri o seu sentido.

Dia Nim

Estamos a meio de Agosto e num dia particularmente Nim resolvi criar este blog.
Criei-o para partilhar ideias, sensações, sentimentos, inquietações e dúvidas do quotidiano.
Sem pretensões.